O livro de Mabel Levato tem o grande mérito de abordar a questão da drogadição em uma passagem anterior pela metapsicologia freudiana. Grande conhecedora desta obra, mergulha-nos desde o início nos temas relacionados com a representação e com o Kern como cerne do nosso ser, o lugar onde reside a nossa singularidade. A maioria dos trabalhos que se referem ao uso de drogas, o fazem com base em questões sociológicas, e não podendo fugir dos problemas do presente, caem numa espécie de descrição do fenômeno. Há, sem dúvida, abordagens mais do que interessantes, mas voltadas para o assunto em si, nas quais são priorizados os textos psicanalíticos que se referem explicitamente a esse assunto. Levato parte de um caminho diferente; traça em Freud e depois em Lacan as arestas fundamentais que compõem a constituição da estrutura subjetiva, para enfocar a partir daí o tema “droga” e sua inserção nessa realidade atual tão “viciada”. Este percurso é o que a conduz a uma verdadeira análise da matéria, clarificando os textos de ambos os autores e marcando os seus pontos de articulação.
Trechos do Prólogo de Silvia Ons
O semelhante carrega as marcas do diferente e constitui, portanto, uma ameaça. Isso é brilhantemente desenvolvido por Freud em “O Estranho”, quando aponta que o familiar se torna traumático e desconhecido. Do amor aos pais no Édipo, ao medo da ameaça de castração como solução para o amor infantil. O familiar se torna sinistro. Não é o que está acontecendo agora com a pandemia, em que até um parente pode trazer o vírus da morte? Que paradoxo isso nos foi apresentado. O outro traz consigo uma ameaça, tal como Freud a descreve no início, e que gera, como consequência, angústia social. Da angústia realista à angústia social.
Extrato de Notas sobre a pandemia
Mabel Levato é graduada em Psicologia (Universidad del Salvador) e mestre em Psicanálise (Kennedy University). Doutor em Psicologia Social (Reino Unido).
Professor de Teoria da Psicanálise I e II na Faculdade de Ciências Psicológicas (Reino Unido). Diretora do Mestrado em Psicanálise (Reino Unido). Membro da Associação Mundial de Psicanálise (AMP) e da Escola de Orientação Lacaniana (EOL – Buenos Aires).
Codiretor até 2014 do Departamento de Toxicodependência e Alcoolismo do Instituto Clínico de Buenos Aires (ICdeBA). Membro da comissão académica da Faculdade de Ciências Psicológicas.
É autora de inúmeras obras publicadas em livros coletivos e publicações especializadas, e dos livros Metapsicologia Freudiana e Teoria das Representações (Editorial Académica Española, 2011); Metapsicologia, O inconsciente freudiano (Letra Viva Editorial, 2012 e 2021) e Novas formas de “sintomas” (Letra Viva Editorial, 2021). Estes dois últimos foram traduzidos e publicados em português pela Letra Viva.
É diretora das coleções “Sujeto, epoch y psicoanálisis” (Argentina) e “Horizontes psicoanáliticos” (Brasil), da editora Letra Viva.